terça-feira, 1 de junho de 2010

Comemoração do dia do Autor Português


Mensagem do Dia do Autor e 85ºAniversário da Sociedade Portuguesa de Autores


Confesso que me é difícil inventar seja o que for que alguém já não tenha dito ou escrito num dia dedicado aos chamados autores, que até são pessoas conhecidas por terem boas ideias.

Ora, dentro de uma certa óptica, qualquer um seria autor, se para tanto bastasse ter acesso a uma ideia quanto possível original.

Mas as coisas não se me revelam assim tão simples.

Na maioria dos casos, as ideias são como sementes que esvoaçam no ar, trazidas pelo vento: umas vezes pousam no lugar certo, alguém as semeia, alguém as cuida, e assim se transformam em plantas, em campos lavrados, em árvores ou florestas; outras vezes, seguem viagem e desaparecem no horizonte, provavelmente perdidas na aridez de uma rocha estéril.

São contingências da vida, também extensivas às ideias.

Deste modo, o verdadeiro autor é, quanto a mim, aquele que semeia, aquele que é capaz de reconhecer a essência e o valor do material de trabalho que lhe chegou às mãos, seja qual for a sua origem.

Ao contrário das teorias que encaram os artistas como uns seres iluminados pela natureza, fontes inesgotáveis de ideias sempre novas, eu defendo muito mais o conceito de que as ideias são como as tais sementes que pairam por aí - e que assumiram um significado concreto a partir do momento em que o mundo também adquiriu consciência de si próprio.

Por isso, eu acho que o verdadeiro Autor é essencialmente quem trabalha as ideias, quem as preserva e desenvolve.

O verdadeiro Autor define-se pela Obra e não por sonhos ou projectos abstractos - até porque, em termos de ideias puras, acho que tudo já nasceu devidamente inventado e pronto a ser utilizado por quem quiser e souber fazê-lo.

E o dia do Autor é, em meu entender, o dia de um trabalhador - tão digno como qualquer outro de ser homenageado.

António Victorino D'Almeida